Fábio de Castro - Agência FAPESP - 20/11/2006
Modificar propriedades de materiais convencionais é um dos segredos da nanotecnologia para agregar valor a produtos. Uma garrafa de leite comum conserva o produto por dois dias, mas um revestimento de nanopartículas, que obstrui os minúsculos poros da garrafa, é capaz de bloquear completamente a entrada de ar e conservar o leite por três meses.
"A tecnologia na escala nanométrica tem infinitas possibilidades. É questão de se ter imaginação: pode-se agregar valor a uma gama imensa de produtos a partir do emprego de nanotubos, nanoporos, nanofios ou nanofilmes", disse Henrique Toma, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP).
Toma afirma esperar que os empresários tomem consciência das múltiplas possibilidades da nanotecnologia para agregar valores a produtos. "É preciso haver uma mudança de mentalidade nos empresários, de modo que percebam que é preciso atuar ao lado de outros setores, como as universidades e instituições de apoio à pesquisa", disse.
Segundo ele, a nanotecnologia tem criado no Brasil diversos produtos inovadores, principalmente na área de engenharia de materiais, mas há muitas contribuições promissoras em outros setores. "Há um vasto campo, quase inexplorado, na área de ciências da vida e de energia e eletrônica, por exemplo", afirmou.
Para Guilherme Ary Plonski, professor de Gestão de Inovação Tecnológica da Escola Politécnica da USP, a nanotecnologia tem capacidade para agregar aos produtos três tipos de valores: do conhecimento, da vida social e dos negócios. "O valor social não pode ficar de fora. Um relatório recente da Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] revelou que a nanotecnologia pode contribuir para cinco dos oito Objetivos do Milênio", afirmou.
Luiz Gustavo Simões, presidente da Nanox, empresa que desenvolve produtos nanotecnológicos desde 2004, ressaltou na Nanotec Expo a necessidade da cooperação entre universidades e empresas no desenvolvimento da inovação. "Nanotecnologia se faz essencialmente com equipes multidisciplinares. A parceria com centros de pesquisa é fundamental e os recursos humanos são um fator crítico", opinou.
Segundo Simões, a Nanox levou dois anos pesquisando junto à universidade para desenvolver produtos como um secador de cabelo com revestimento interno de nanopartículas de dióxido de titânio para o combate a microrganismos.
"Tivemos ajuda do programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe), da FAPESP, na fase de start up", disse. A empresa é um spin-off do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP.