Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/07/2003
O investimento do Brasil no campo de tecnologia para habitação está mostrando retorno. Com financiamentos do Fundo Verde - Amarelo, voltado a estimular a parceria entre universidade e empresas, o Programa de Tecnologia Para Habitação (Habitare), da FINEP, está permitindo que pesquisadores de instituições de pesquisa espalhadas no país venham obtendo uma série de resultados que podem auxiliar na redução dos custos e melhoria da qualidade da habitação de interesse social. As pesquisas estão gerando materiais alternativos produzidos a partir do reaproveitamento de resíduos, processos de gerenciamento e redução de desperdício na construção civil, programas de atendimento à população que permitem ao futuro morador participar do processo de construção de sua casa própria e recomendações para a sustentabilidade de projetos de urbanização de favelas, entre muitos outros.
Criado em 1994, o Programa Habitare já investiu R$ 10 milhões em 70 projetos selecionados em quatro editais (1995, 1996, 1997 e 2000). O programa é financiado pela FINEP, conta com recursos de outras instituições, como o CNPq, na forma de bolsas para capacitação de recursos humanos, e da Caixa Econômica Federal, na divulgação dos resultados das pesquisas. O objetivo geral do programa é contribuir para o avanço do conhecimento na área de tecnologia da habitação. O desafio assumido é financiar projetos de pesquisa capazes de contribuir para a redução dos custos da habitação e apontar soluções para um dos principais problemas brasileiros - o déficit habitacional. Um dos mais recentes estudos oficiais sobre o tema indica que a deficiência do estoque de moradias no Brasil é de 6,6 milhões (dado relativo ao ano de 2000).
Urbanização de favelas
Executado pelo Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (Labhab), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, através da Fundação Para a Pesquisa Ambiental (FUPAM), um dos projetos integrados ao Habitare se propôs a ser um referencial para implantação de melhores condições de vida para populações que habitam favelas no Brasil. A pesquisa Parâmetros Técnicos para Urbanização de Favelas teve como principal foco de estudo oito experiências brasileiras de urbanização de favelas, nas cidades de São Paulo, Diadema, Rio de Janeiro, Goiânia e Fortaleza. Com base em um diagnóstico destas experiências de urbanização, a equipe elaborou recomendações voltadas a garantir a sustentabilidade, a adequabilidade e a replicabilidade dos programas de urbanização de favelas no país. Os três indicadores orientaram as análises e a definição de soluções técnicas e parâmetros para atuação das diversas esferas institucionais envolvidas na ação de urbanização do espaço de convívio de famílias moradoras de favelas.
O problema urbano de escorregamentos e desabamentos de construção em áreas de encostas, em geral ocupadas sem critérios, é outro problema atacado pelo Habitare. Um dos estudos integrados ao programa vem gerando subsídios para revisão e elaboração de normas urbanísticas municipais ligadas ao uso habitacional do solo em encostas, além de desenvolver novas tipologias para estes locais. O trabalho é responsabilidade de uma equipe de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), que há anos vem auxiliando o poder público na recuperação de assentamentos destruídos por acidentes como escorregamentos e desabamentos. Os resultados da pesquisa estãoregistrados em um livro integrado à Coleção Habitare e que já está disponível para cópia gratuita no site doPrograma Habitare.
Mutirão
Há também diferentes estudos voltados à melhoria do processo de mutirão - sistema de construção de moradias populares que em geral conta com a participação do futuro morador. Um grupo de pesquisadores do Departamento de Arquitetura da UFMG, integrado ao Habitare, está levando a tecnologia para o canteiro de obras de um mutirão em Minas Gerais. O projeto tem o objetivo de investigar como é possível utilizar o desenvolvimento atual da informática para incrementar o processo de construção de habitação popular. Um problema comum em mutirões é que nem todas as pessoas que pretendem trabalhar na construção das casas têm experiência de pedreiros. Para colaborar com essa questão, o projeto vem permitindo o desenvolvimento de jogos eletrônicos para transmitir aos trabalhadores técnicas de construção utilizadas no canteiro de obras. Ainda em relação a programas de mutirão, outro projeto permitiu o estudo de uma série de experiências no país e deve gerar como produto um ´manual´sobre o gerenciamento de empreendimentos que sejam construídos a partir dessa sistemática.
Produtos alternativos
Em termos de formulação de novos materiais e produtos alternativos para a habitação de interesse popular, estão em andamento estudos para reaproveitamento de fibras vegetais em telhas, reciclagem de cinzas de termoelétricas em blocos e concretos, aproveitamento da madeira de reflorestamento, reaproveitamento do entulho da construção civil, introdução de resíduos da indústria calçadista na produção de gesso, entre outros. Vários destes produtos já estão sendo experimentados e demonstrados em protótipos da habitação de interesse social, que estão sendo construídos em diferentes cidades brasileiras. Um projeto de infra-estrutura financiado pela Habitare será de grande importância para o aprimoramento destes produtos, já que está permitindo a implantação de uma rede nacional de estações de envelhecimento natural para estudo da durabilidade de materiais e componentes da construção. Além de investir em inovações tecnológicas a partir da concepção de novos produtos, o programa está permitindo o aprimoramento e a recuperação de tecnologias tradicionais, como o tijolo de terra crua. O estudo está sendo dsenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba em parceria com instituições internacionais e já está possibilitando que insalubre construções de taipasejam substituídas por habitações contruídas pela própria população.
Desenvolvidos em cerca de 10 diferentes áreas do conhecimento, todos os projetos buscam soluções para o problemahabitacional brasileiro e a modernização do setor de construção civil, especialmente aquele voltado para as construções de moradias destinadas às populações de baixa renda. Para disseminar e auxiliar o processo de transferência de tecnologias, o programa conta com um plano de divulgação, que está permitindo, além da construção dos protótipos, a publicação de obras com resultados das pesquisas.