Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/01/2007
A ciência está cheia de pequenas verdades que se pretendem eternas. Esses "axiomas" são construídos a partir das teorias atualmente aceitas e, se quebrados, podem exigir a reconstrução de toda a teoria. Essa ameaça ao "status quo" pode ser perigosa e é freqüentemente rechaçada com veemência por cientistas que se fixam num determinado paradigma. Thomas Kuhn explicou muito bem como esse processo funciona.
Mas os cientistas realmente "de ponta" nunca se prestam à adoração das teorias atuais; na verdade, eles adoram desafiá-las e achar falhas, inconsistências e incompletudes nessas teorias. E é justamente isto o que faz a ciência avançar.
Foi o que aconteceu durante o trabalho dos químicos Chris Snively e Jochen Lauterbach, da Universidade de Delaware, Estados Unidos. Os livros-texto de química dos polímeros afirmam categoricamente que toda uma classe de pequenas moléculas chamadas 1,2-etilenos dissubstituídos não podem ser transformados em polímeros - o bloco básico para a construção de tudo o que conhecemos comumente por plásticos.
Mas os dois cientistas provaram que os livros-textos estão errados. Como resultado de sua "heresia", e como prêmio de sua persistência, eles descobriram uma nova classe de filmes poliméricos ultra finos, com aplicações potenciais que vão desde o revestimento de minúsculos equipamentos eletrônicos, até o desenvolvimento de uma nova classe de células solares plásticas.
Polimerização é uma reação química na qual os monômeros - pequenas moléculas com unidades estruturais repetidas - juntam-se para formar uma longa molécula com a estrutura parecida com uma corrente - um polímero. Cada polímero geralmente consiste em 1.000 ou mais desses pequenos monômeros. O nosso DNA é um exemplo de um polímero natural, enquanto os plásticos são polímeros artificialmente construídos pelo homem.
Normalmente os polímeros são feitos colocando-se os monômeros em um solvente e submetendo a solução ao calor ou à luz. Mas, para construir o novo polímero, os dois cientistas utilizaram um novo processo, que não utiliza solvente.
O processo de deposição-polimerização ocorre em uma câmara de vácuo, sob baixa pressão. O material a ser recoberto com o filme - um pedaço de metal, por exemplo - é colocado na câmara e resfriado abaixo do ponto de congelamento do monômero. O vapor de monômero entra na câmara e se condensa sobre o metal. A seguir o filme resultante é exposto à luz ultravioleta para iniciar a polimerização.
Esse processo por enquanto só funciona em laboratório, produzindo quantidades muito pequenas do novo polímero. Os cientistas agora vão se dedicar a desenvolver técnicas para que ele funcione em larga escala, o que permitirá sua utilização pela indústria.