Redação do Site Inovação Tecnológica - 23/10/2003
Uma descoberta feita por pesquisadores da Universidade Lehigh (Estados Unidos) poderá ter um grande impacto na indústria do vidro. Ao compreender o processo de resfriamento do vidro, quando este está se solidificando em contato com o molde que dará seu formato definitivo, os cientistas esperam conseguir produzir vidros com maior durabilidade assim como produtos com transparência próxima a 100 por cento.
A equipe do Dr. Himanshu Jain descobriu que, quando o vidro fundido é soprado para se conformar ao molde, a porção "mais superior" de sua superfície, medindo apenas alguns nanômetros de espessura, sofre fraturas microscópicas quando entra em contato com o ar.
Estas fraturas têm no máximo alguns micrômetros de largura, a maioria ficando na escala dos nanômetros. Mas quando o vidro é exposto a uma solução agressiva, como produtos de limpeza, as fraturas se ampliam e se espalham, com suas superfícies dissolvendo-se mais rapidamente do que o restante do vidro. Este efeito é o responsável pelo aspecto "gasto" que o vidro assume e que não pode ser retirado com mais produtos de limpeza.
Na verdade, explica o Dr. Jain, o aspecto gasto do vidro nada mais é do que luz que se refrata e se espalha pelas numerosas micro-fraturas.
Até agora os cientistas acreditavam que o vidro se cristalizava de maneira uniforme para formar um material homogêneo e quimicamente estável. A principal teoria que o Dr. Jain desmistificou com sua nova descoberta é a de que o vidro se comportaria como um líquido quando é soprado em um molde. Ao estudar o material utilizado em seu experimento, ele percebeu que a porção mais exterior do vidro, de poucos nanômetros de espessura, comporta-se, na verdade, como um sólido, cristalizando-se de maneira não uniforme e estando sujeita a fraturas
"Ninguém havia imaginado que o topo da superfície era um sólido," afirma Jain. "Nossas experiências em laboratório provaram nossa hipótese. Somente o topo da superfície fraturou; o resto do vidro permaneceu muito homogêneo." Segundo ele, o mesmo deverá valer também para plásticos transparentes, largamente utilizados para embalagens.
Mas a descoberta tem impacto também sobre a nanotecnologia. "Para os cientistas da nanotecnologia, a falta de homogeneidade em nano-escala poderá ser um sério problema que precisará ser resolvido à medida em que a nanotecnologia chega ao mercado." conclui o cientista.
A pesquisa foi encomendada pela empresa Unilever, preocupada com os danos que copos e louças sofrem ao serem lavados em máquinas de lavar domésticas. A pesquisa foi publicada no exemplar de 6 de Outubro do jornal científico Applied Physics Letters. Um segundo artigo deverá ser publicado proximamente pela equipe, relatando os efeitos induzidos no vidro por produtos de limpeza.