Giselle Chassot - 20/09/2002
As histórias em quadrinhos e o cinema chegaram a imaginar uma teia de aranha tão resistente que permitisse a um super-herói balançar-se pela cidade em velocidade estonteante apenas seguro pelos fios de proteína. Mas nem mesmo a melhor das ficções conseguiu pensar que as finas redes para capturar insetos pudessem ser usadas como instrumento de defesa.
Os cientistas pensaram. Descobriram que teias de aranha são tão resistentes quanto o aço e podem substitui-lo com vantagens, porque são muito mais flexíveis. O pesquisador Elíbio Rech Filho, da Embrapa, demonstrou ontem, no centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), com a presença dos secretários-técnicos dos fundos setoriais de Agronegócios, Paulo Cruvinel, e de Biotecnologia, João Lúcio Azevedo, a viabilidade de utilização das teias de aranha(ou, cientificamente, da produção de biopolímeros isolados de aranhas da biodiversidade do Brasil).
De acordo com Rech, as aranhas brasileiras são capazes de dar origem a um produto que teria larga aceitação no mercado. O fio poderia ser utilizado na confecção de coletes à prova de balas mais leves e igualmente resistentes, na fabricação de pára-choques capazes de suportar grandes impactos e até na indústria farmacêutica.
O problema é que a aranha, embora produza um fio altamente resistente e, portanto, de fácil comercialização, produz em quantidades reduzidíssimas. A solução? Clonar os genes responsáveis pelo biopolímero e desenvolver outros sistemas para produção.
A pesquisa, segundo o especialista, tem larga viabilidade comercial. O exército americano, por exemplo, comprou o projeto desenvolvido em laboratórios canadenses para produção do fio de aranhas e detém a patente. De acordo com Rech, isso não nos impede de pesquisar ou desenvolver técnicas de utilização da teia de aranhas brasileiras.
Ele acredita que, entre a pesquisa e a colocação do produto no mercado, seriam necessários pelo menos três anos de trabalhos. O desenvolvimento da técnica está sendo feito com o apoio da Embrapa, Unicamp, USP, Instituto Butantã, Universidade de Brasília e Ministério da Defesa