Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/09/2002
Em época de tanto ufanismo acerca do progresso técnico, pode soar estranho que os cientistas, até agora, não conseguissem explicar como uma lagartixa consegue andar no teto ou em superfícies tão lisas quanto o vidro. É claro que o fenômeno sempre chamou a atenção da indústria de adesivos.
As teorias mais aceitas baseavam-se na força capilar dos minúsculos pêlos de seus pés. Mas estas teorias não conseguem explicar como as lagartixas andam tanto por superfícies hidrófilas (que atraem água), quanto hidrofóbicas (que repelem água).
Mas, graças à insistência de pesquisadores da Faculdade Lewis and Clark, em Portland, Oregon e da Universidade de Stanford (Estados Unidos), agora chegou-se finalmente a uma resposta completa. E não se trata de cola, nem mesmo de uma substância química que funcione como adesivo. A chave para a descoberta foi a observação dos pés das lagartixas em um microscópio eletrônico.
As lagartixas têm cerdas, minúsculos pêlos, nas pontas dos dedos de suas patas. Cada cerda mede cerca de 100 micrômetros. Na ponta de cada uma das cerdas, há mais de mil pequeníssimas almofadas. Segundo o pesquisador que coordenou os trabalhos, Dr. Kellar Autumn, uma cerda pode sustentar o peso de uma formiga. Um milhão de cerdas poderia facilmente sustentar uma criança de 20 quilos. Uma lagartixa, utilizando todas as suas cerdas ao mesmo tempo, poderia sustentar mais de 120 quilos. É por isso que elas conseguem ficar penduradas no teto apoiando-se em apenas um dedo.
E é a geometria, e não a química das minúsculas almofadas, que explica seu funcionamento como um poderoso adesivo. Elas grudam em qualquer superfície graças à bem conhecida força de van der Waals, uma força eletrostática que tende a manter juntas as moléculas. Esta força é bastante fraca, mas se ela age sobre uma grande área, o resultado pode ser uma força de atração significativa.
Agora os cientistas vão tentar construir cerdas sintéticas que reproduzam as cerdas naturais das lagartixas e funcionem como adesivos instantâneos. Mas o Dr. Kellar já avisa aos mais entusiasmados, principalmente fãs do homem-aranha, de que ele não vislumbra nenhuma luva que possa permitir a um ser humano andar pelas paredes. Mas pequenos robôs que possam facilmente escalar rochas com alto grau de inclinação na superfície de Marte, isso sim, ele coloca como um objetivo plausível em prazo não muito longo.