Agência USP - 07/06/2005
Muitos dos segredos do olho humano estão agora por um fio. No Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP em São Carlos, cientistas desenvolvem um software que pode reproduzir, com fidelidade, fenômenos ainda não compreendidos que acontecem no olho humano. "O Olho Virtual foi criado sob todas as leis da ótica e da fisiologia", garante o professor Odemir Martinez Bruno, um dos coordenadores do projeto.
"Poderemos descobrir como funciona o cristalino, por exemplo, e como se forma a imagem na retina", conta o pesquisador. O software poderá ser utilizado também nas reações do órgão quando acometido por alguma doença, como a ceratocone (desordem ocular que altera a forma da córnea provocando a percepção de imagens distorcidas), a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo, entre outras.
Bruno destaca a fidelidade do dimensionamento do Olho Virtual. Segundo ele, todas as medidas são idênticas às do olho humano. Por meio de topógrafos e ultra-sons, o olho do paciente é medido e as informações são inseridas no software que monta um modelo em três dimensões.
A partir daí, várias simulações são possíveis. Até o momento, os pesquisadores conseguiram reproduzir, por exemplo, como a imagem da Mona Lisa (quadro de Leonardo da Vinci) se forma na retina de uma determinada pessoa.
Teorias
Com o Olho Virtual, algumas teorias ainda controversas acerca do órgão poderão ou não ser ratificadas. "Para alguns especialistas, o cristalino é comprimido para que a pessoa enxergue de perto. Outros, no entanto, afirmam que acontece justamente o contrário, que o cristalino se alonga. Ainda não temos esta reposta, mas certamente o software poderá auxiliar de forma decisiva nesta questão", garante o pesquisador.
O Olho Virtual é um projeto que será de suma importância principalmente na área de educação médica. "Os estudantes de oftalmologia poderão aprimorar seus estudos, acompanhando na tela do computador simulações sobre o funcionamento da óptica e fisiologia do olho humano", diz Bruno. Além desta aplicação ele salienta a utilização do software na área de clínica médica, em que o médico oftalmologista, após inserir dados do olho do paciente no programa, poderá melhor determinar procedimentos, como cirurgias ou tratamentos.
Além dos experimentos que já foram feitos com o software, Bruno destaca que o Olho Virtual já foi validado por meio de cálculos matemáticos. "Utilizando métodos como o wave front, pudemos validar o projeto", conta o pesquisador.
O projeto teve início em 2003, com o trabalho de pesquisa de mestrado do aluno Rodrigo Duran, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e orientado pelo professor Luis Gustavo Nonato. Outro trabalho ligado ao Olho Virtual, do aluno de mestrado Leandro Henrique de Oliveira Fernandes está sendo orientado por Bruno.
O projeto tem como coordenadores os professores Luis Gustavo Nonato e Odemir Martinez Bruno, ambos do ICMC - USP, e o pesquisador Luis Alberto Vieira de Carvalho, do IFSC - USP, que atualmente realiza pós-doutorado na Universidade de Rochester, nos EUA.