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Informática

Cubículo de atenção quer controlar cérebro de trabalhadores

Agostinho Rosa - 28/12/2004

Cubículo de atenção quer controlar cérebro de trabalhadores

Um cubículo totalmente fechado, capaz de bloquear o ruído e distrações visuais quando alguém está tentando trabalhar, e abrir canais de comunicação quando esse alguém necessita liberar seu lado social: essa é a última invenção de cientistas da Universidade de Queens, Canadá, financiados, dentre outros, pela Microsoft.

A invenção foi batizada de "cubículo de atenção". O trabalho, liderado pelo Dr. Roel Vertegaal, será tema do exemplar de Janeiro da revista Scientific American.

As paredes do cubículo de atenção são construídas de um material translúcido chamado "vidro da privacidade", que consiste em uma placa de vidro com uma camada interna de cristal líquido. Câmeras instaladas no teto monitoram a "geometria social" entre os colegas de trabalho. Quando alguém com "potencial de comunicação" é detectado, as paredes do cubículo passam automaticamente de opacas para transparentes, permitindo a interação visual.

Tudo analisado pelo computador tendo em vista, é claro, as funções que o trabalhador tem que desempenhar e suas tarefas agendadas. Papos amigáveis nem pensar. O programa de computador também não irá considerar se o autômato, digo, o trabalhador, quer ou não falar com aquele alguém com "potencial de comunicação" ou mesmo se naquele exato instante ele está com o dedo no nariz. Será exposição automática instantânea.

Os trabalhadores utilizarão fones de ouvido especiais que cancelam os ruídos ambientais. Os fones também funcionam acoplados ao sistema de detecção-automática-de-colegas-com-quem-você-pode-falar-agora. Quando o detectado se aproxima, o sistema de cancelamento de ruídos também é desativado permitindo a comunicação normal. "Você não ouve nada a não ser o que o fone de ouvido apresenta a você," diz Vertegaal.

"Fale o que você tem que falar. Nem mais, nem menos", poderá lhe dizer o computador. Dado o recado, o vidro fica opaco novamente e os sons são desligados pelo fone de ouvido.

Parece que finalmente a era cibernética chegou aos "Tempos Modernos". Nem Chaplin imaginaria tanto. Pobres coitados dos trabalhadores de fábrica e escritório. Ou será que a Microsoft estaria pensando nos programadores de computador?

"Nós hoje vivemos em um mundo com muitas distrações, freqüentemente geradas por aplicações de computadores que não levam em conta nossas necessidades." afirma o pesquisador.

Embora fale em necessidades, parece que o cientista está pensando mais em obrigações. E, pior, aquelas obrigações enfadonhas que exigem que o trabalhador esteja sendo vigiado para que elas sejam completadas. Vocação, motivação, engajamento, satisfação no trabalho? Bom, parece que o Dr. Vertegaal não lê muito sobre técnicas modernas de recursos humanos e gerenciamento.

"O computador pode permitir que o cérebro trabalhe de forma mais eficiente auxiliando os mecanismos de atenção," afirma ele. "Nós estamos a caminho de melhorar a funcionalidade cerebral tocando diretamente no sistema sensorial da pessoa. É realmente entusiasmante que essas novas aplicações dos computadores sejam um dia capazes de melhorar as habilidades perceptuais e de pensamento."

Entusiasmante ou assustador? Um gerente sem muitos atributos de liderança provavelmente apoiará qualquer coisa que faça com que seus trabalhadores trabalhem mais. Mas será que ele mesmo desejará ficar enclausurado num cubículo de atenção?

Mas deixemos que os pesquisadores se defendam: segundo eles, seu trabalho consiste em tirar os computadores do reino das ferramentas e torná-los utensílios "sociáveis", capazes de reconhecer e responder a expressões não verbais dos seres humanos numa interação grupal.

Será assim tão belo? Senão vejamos: uma das tecnologias ditas "mais promissoras" que eles estão desenvolvendo, consiste em sensores que monitoram os olhos da pessoa, sendo capazes de definir para onde ela está olhando. Dá prá imaginar: "Dercival, olhe para a tela.", ou "Bernadete, porque você tira tanto os olhos do seu trabalho?". Tudo, claro, falado por uma simpática voz sintetizada.

"O cubículo essencialmente cria uma realidade mediada pelo computador. Ele amplia os sentidos do usuário removendo objetos que possam distraí-lo," continua o Dr. Vertegaal. "Em última instância, o computador controla nossos mecanismos de atenção, permitindo que nosso cérebro concentre energia onde ele será mais efetivo."

Nem Taylor e Fayol juntos pensariam nisso. A idéia faz lembrar o alerta de J. Robert Oppenheimer, o cientista-chefe do projeto que criou a bomba atômica norte-americana. Depois de ver o estrago que sua invenção causou, ele suspirou: "Nenhuma arma é tão perigosa quanto um cientista alienado."

Mas nem tudo é tão perverso no laboratório do Dr. Vertegaal. Os pesquisadores estão explorando a possibilidade de utilizar óculos com lentes dotadas de sensores para tratar crianças com autismo. Os óculos detectam quando a criança olha para seus pais e tenta encorajar esse ato, tocando sons agradáveis quando ele é feito.

"Encorajar as crianças a fazer contato visual pode ser uma forma de ajudar seus cérebros a funcionar de forma mais efetiva, ajudando-as a se comunicar melhor," termina o Dr. Vertegaal.

A pesquisa está recebendo financiamento das empresas Microsoft e SMART Technologies e de quatro instituições de pesquisa canadenses: Ontario Centres of Excellence (OCE), Natural Sciences and Engineering Research Council of Canada (NSERC), Precarn Institute for Robotics and Information Systems (IRIS) e Premier?s Research Excellence Awards (PREA).

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