Tony Phillips e Patrick L. Barry - Science@NASA - 28/07/2005
Pela primeira vez, desde os anos 1970, uma nave da NASA irá tirar fotos claras das relíquias da missão Apollo que ficaram na Lua.
Dentro do Challenger, o módulo de pouso lunar, o alto-falante do rádio estala:
"Rover," o jipe lunar, descansa do lado de fora, sem ninguém a bordo, com sua câmera lateral fixa no Challenger. Em Houston e ao redor do mundo, milhões de pessoas assistem à cena. A data é 19 de Dezembro de 1972, e a história está para ser escrita.
O jipe lunar da Apollo 17 (círculo), espera para filmar a partida de sua nave-mãe, a Challenger. |
Repentinamente, sem qualquer ruído, a Challenger se divide em duas. A base da nave, a parte com os pés de pouso, fica imóvel. A parte de cima, o módulo lunar, com Cernan e Jack Schmitt a bordo, arremete, deixando uma nuvem de poeira dourada. Ele sobe, gira e se posiciona para o acoplamento com o América, a parte da nave que permanece em órbita e que os trará de volta à Terra.
Estes foram os últimos homens sobre a Lua. Depois que eles partiram, a câmera abriu e fechou seu foco. Não havia ninguém lá, nada, somente o jipe lunar, o módulo de pouso e alguns equipamentos espalhados sobre o poeirento vale Taurus-Littrow. Depois, a bateria do jipe acabou e cessaram as transmissões de TV.
Esta foi a última olhada para um local de pouso da Apollo.
Muitas pessoas acham isso surpreendente, mesmo desconcertante. Teóricos da conspiração há muito tempo insistem que a NASA nunca chegou à Lua. Foi tudo trote, dizem eles, uma forma de vencer a corrida espacial trapaceando. O fato de que os locais de pouso da Apollo nunca tenham sido fotografados em detalhes desde os anos 1970 encoraja essas declarações.
Locais de pouso da Apollo. |
E por que nós não os fotografamos? Há seis pontos de pouso espalhados pela Lua. Eles estão sempre voltados para a Terra, sempre em frente aos nossos olhos. Certamente o Telescópio Espacial Hubble poderia fotografar os jipes lunares e outras coisas que os astronautas deixaram para trás. Certo?
Errado. Nem mesmo o Hubble poderia fazer isto. A Lua está, em média, a 384.400 quilômetros de distância. A esta distância, as menores coisas que o Hubble consegue distinguir têm cerca de 60 metros de largura. A maior peça de equipamento deixada pela missão Apollo tem apenas 9 metros de comprimento, sendo, portanto, menor do que um único pixel em uma imagem do Hubble.
Mas fotos melhores estão por vir. Em 2008, a sonda Lunar Reconnaissance Orbiter, da NASA, levará uma poderosa câmera até uma órbita baixa da Lua. Sua missão principal não é fotografar os antigos locais de pouso da Apollo, mas ela irá fazê-lo, muitas vezes, fornecendo as primeiras imagens reconhecíveis das relíquias da Apollo desde 1972.
A câmera de alta resolução da sonda espacial, chamada LROC, sigla para Lunar Reconnaissance Orbiter Camera, tem uma resolução de cerca de meio metro. Isto significa que um quadrado de meio metro sobre a superfície da Lua irá ocupar um pixel em suas imagens digitais.
Os jipes lunares da Apollo têm cerca de 2 metros de largura e 3 metros de comprimento. Logo, nas imagens da LROC, esses veículos abandonados terão 4 por 6 pixels.
Com o que se parece uma imagem com resolução de meio metro? Esta imagem de um aeroporto tem a mesma resolução que uma imagem da LROC. Objetos do tamanho dos jipes lunares (automóveis e carrinhos de bagagem) são claramente visíveis.
Um exemplo de uma fotografia tirada de cima com uma resolução de meio metro, a mesma resolução que terão as imagens da câmera LROC. Esta foto de um aeroporto mostra aviões de vários tamanhos, assim como muitos veículos de serviços do tamanho de automóveis. Note como as sombras ajudam a destacar os objetos do plano de fundo. As imagens de alta resolução da LROC também serão em tons de cinza, mas terão menos granularidade do que a imagem acima, graças à sua tecnologia de imageamento digital. Imagem cortesia do MIT Digital Orthophoto Project. |
"Eu poderia dizer que os jipes irão aparecer angulosos e distintos," afirma Mark Robinson, professor da Universidade Nordeste, em Evanston, Illinois, e principal pesquisador da LROC. "Nós deveremos ver algumas diferenças de sombra sobre o topo dos acentos, dependendo do ângulo do Sol. Mesmo os rastros dos jipes poderão ser visto em alguns casos."
Ainda mais fáceis de serem visualizadas serão as plataformas de lançamento. Seus corpos principais têm 4 metros de aresta, o que as fará preencher quadrados de 8 por 8 pixels nas imagens. As quatro pernas, esticando-se de cada canto das plataformas, criam um diâmetro de 9 metros. Desta forma, de um ponto de apoio até o outro, do lado oposto, as plataformas ocuparão 18 pixels nas imagens da LROC, mais do que suficiente para se perceber seus desenhos característicos.
As sombras ajudam, também. Longas sombras escuras, estampadas contra o cinza do solo lunar, irão revelar o formato dos objetos que as criam: os jipes e as plataformas de pouso e lançamento. "Durante o curso de sua missão de um ano, a LROC irá fotografar cada ponto de pouso várias vezes, com a luz do Sol a diferentes ângulos a cada passagem," afirma Robinson. Comparando as diferentes sombras produzidas, será possível fazer uma análise mais precisa do formato dos objetos."
E chega de nostalgia. A principal missão da LROC está voltada para o futuro. De acordo com a Visão para a Exploração Espacial da NASA, os astronautas não deverão retornar à Lua antes de 2020. A sonda Lunar Reconnaissance Orbiter será uma espécie de batedor. Ela irá analisar a radiação ambiental na Lua, procurar por pistas de água congelada, fazer mapas a laser do solo lunar e, utilizando a LROC, fotografar toda a superfície da Lua. Quando os astronautas retornarem, eles saberão os melhores lugares para pousar e muito do que os espera.
Dois alvos de alta prioridade para a LROC são os pólos da Lua.
"Nós estamos particularmente interessados nos pólos como uma localização potencial para uma base lunar," explica Robinson. "Há algumas regiões de crateras próximas aos pólos que ficam na sombra o ano todo. Esses locais podem ser frios o suficiente para manter depósitos permanentes de água congelada. E, próximo a elas, estão regiões altas que têm sol o ano todo. Com luz do sol constante para o aquecimento e para a geração de energia elétrica, e com uma fonte de água em potencial nas proximidades, essas regiões altas são um local ideal para uma base." Imagens da LROC irão ajudar a apontar o melhor local para se construir um lar lunar.
O conceito de uma base lunar polar, pelo artista Pat Rawling. |
Quando uma base lunar for instalada, qual será o perigo de que ela seja atingida por um grande meteorito? A LROC irá também ajudar a responder a essa questão.
"Nós poderemos comparar as imagens da LROC dos pontos de pouso da Apollo com as fotos da época," afirma Robinson. A presença ou ausência de crateras novas irá revelar aos cientistas alguma coisa sobre a freqüência dos choques dos meteoritos.
A LROC irá também procurar por antigos cones de lava vulcânica. São locais parecidos com cavernas, que aparecem em algumas imagens da Apollo, onde os astronautas poderiam se esconder no caso de uma tempestade solar inesperada. Um mapa global desses abrigos naturais contra tempestades irá ajudar os astronautas a planejar suas explorações.
Ninguém sabe o que mais a LROC poderá encontrar. A Lua nunca foi pesquisada em tamanho detalhamento antes. Com certeza as surpresas nos esperam; velhas espaçonaves abandonadas são apenas o começo.
Direitos sobre a tradução em português: www.inovacaotecnologica.com.br
Reprodução proibida.