Redação do Site Inovação Tecnológica - 27/02/2003
Nas primeiras horas da manhã de 15 de Novembro de 1.953, um astrônomo amador em Oklahoma (Estados Unidos) fotografou o que ele acreditava ser uma nuvem esbranquiçada de rocha vaporizada levantando- se do centro da face da Lua. Se sua idéia estivesse correta, o Dr. Leon Stuart, aquele astrônomo amador, seria o primeiro e único ser humano na história a visualizar e documentar o impacto de um asteróide sobre a superfície lunar.
Quase meio século, numerosas sondas espaciais e seis desembarques humanos na superfície da Lua depois, o que se tornou conhecido nos meios astronômicos como o "Evento Stuart", continuava a ser uma teoria controversa e sem provas. Céticos descartavam os dados de Stuart como inconclusivos e argumentavam que o brilho era resultado de um meteorito entrando na atmosfera terrestre ou mesmo defeito da fotografia. Mas isto até que o Dr. Bonnie J.Buratti, um cientista da NASA e Lane Johnson da Faculdade Pomona, dessem uma nova olhada no mistério de 50 anos.
"A extraordinária foto da colisão, feita por Stuart, deu-nos um excelente ponto de partida em nossa busca," disse Buratti. "Nós fomos capazes de estimar a energia produzida pela colisão. Mas nós calculamos que qualquer cratera resultante da colisão deveria ser muito pequena para ser vista pelo melhor telescópio terrestre, e passamos a buscar provas em outro lugar."
O reconhecimento feito por Buratti e Lane da área de 35 quilômetros quadrados onde o impacto teria provavelmente ocorrido, levou-os a observações feitas por uma nave em órbita da Lua. Primeiro eles descartaram fotos feitas pela nave Lunar Orbiter em 1.967, já que nenhuma das crateras mostraram-se boas candidatas. Então eles consultaram as imagens mais detalhadas feitas pela nave Clementine em 1.994.
"Utilizando a fotografia de Stuart do flash lunar, nós estimamos que o objeto que atingiu a Lua teria aproximadamente 20 metros de largura e a cratera resultante deveria estar na faixa de dois quilômetros de diâmetro. Nós estávamos procurando por crateras novas com uma aparência sem erosão," disse Buratti.
Parte do que torna uma cratera luar "nova" é a aparência de matiz azulado de sua superfície. Esse azulado indica solo lunar que está relativamente intocado por um processo chamado "erosão espacial", que avermelha o solo. Outro indicador de uma cratera recente é que ela reflete distintamente mais luz do que a área ao seu redor.
A busca de Buratti e Lane por imagens da missão Clementine revelou uma cratera de 1,5 quilômetro de largura. Ela tem um brilho azul, uma camada com aparência de material recente ao redor da área de impacto e está localizada no centro da área da foto tirada por Stuart em 1.953. O tamanho da cratera é consistente com a energia produzida pela observação da foto; ela tem a cor e a reflexibilidade esperadas e tem o formato adequado.
Tendo todas as estatísticas vitais da cratera de Stuart, Buratti e Lane calcularam a energia liberada pelo impacto como sendo de cerca de 0,5 megaton, cerca de 35 vezes mais do que a bomba que destruiu Hiroshima. Eles estimam que tais eventos ocorram na superfície lunar a cada meio século.
"Para mim isto é o equivalente celeste de se observar um furacão que ocorre a cada século," observou Johnson. "Nós acreditávamos que a Lua era geologicamente morta, mas isto prova que ela não está. Aqui nós podemos ver realmente a ação do tempo sobre a Lua," disse ela.
O estudo de Buratti e Lane está publicado no último número do jornal de astronomia Icarus.
O Dr. Stuart, primeiro homem a ver e documentar um meteoro caindo sobre a Lua, faleceu em 1.969.