Fábio de Castro - Agência FAPESP - 24/10/2007
A mandioca está longe de poder competir com a cana-de-açúcar como matéria-prima para a produção de etanol. Mas uma nova variedade produzida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) surge com potencial para servir como uma matriz complementar, principalmente nas áreas de cerrado.
Dispensando a hidrólise
"No processo convencional para fabricação do álcool a partir da mandioca é preciso hidrolisar o amido que está no tubérculo. É assim que se produz o açúcar, que é fermentado para fabricação do álcool. O problema é que a hidrólise é um processo dispendioso tanto em termos financeiros como energéticos", explica Luiz Castelho Carvalho, que apresentou a inovação na semana passada em Brasília.
A variedade criada pela Embrapa dispensa o processo de hidrólise. "Em vez de amido, ela tem açúcar na raiz. E esse açúcar é a glicose, que é o substrato do processo de fermentação", explicou.
Custo energético
De acordo com o pesquisador, a nova variedade reduz o custo energético em mais de 25%. "Já temos três plantas industriais experimentais de álcool de mandioca em São Paulo, em Botucatu, Tarumã e Flavel", disse.
Segundo Carvalho, a intenção não é rivalizar com o etanol de cana-de-açúcar, mas ocupar nichos complementares de mercado. "Não queremos competir com a cana. Acho que ela vai muito bem, tem boa tecnologia e é muito eficiente em vários segmentos da cadeia de produção. Só queremos atingir nichos onde a cana não será opção. Ela, sozinha, não dará conta da demanda, principalmente se quisermos exportar", afirmou.
Etanol de mandioca
Segundo ele, as limitações científicas foram resolvidas e, no momento, o problema é de ordem tecnológica. "Na parte científica, identificamos o fenótipo que substitui o amido pelo açúcar, identificamos o gene, já temos a variedade e agora estamos transferindo a carcterística para a variedade comercial voltada para o Cerrado", disse.
De acordo com Carvalho, o objetivo é que o álcool de mandioca seja uma opção para a região Centro-Oeste. "A cana está vindo de São Paulo para o Centro-Oeste. Não queremos mexer com a cana paulista, que está dando conta do recado, mas, para vir para o Centro-Oeste, será preciso desenvolver novas variedades e isso vai demorar pelo menos uma década, enquanto o etanol de mandioca poderá estar no mercado em 2010", destacou.
Hidrogênio a partir da mandioca
Além da produção de etanol, a Embrapa está desenvolvendo mais dois projetos com mandioca, segundo Carvalho. "Estamos pesquisando a produção de hidrogênio e bio-hidrogênio por meio do açúcar da mandioca. O objetivo é produzir células de hidrogênio. Outro projeto, em fase de escalonamento industrial, trata de desenvolver biopolímeros que sejam úteis no processo de metalurgia, para purificação do ferro", contou.
Segundo o cientista, a identificação do fenótipo de açúcar foi feita em 2000. O uso do açúcar de mandioca para a metalurgia foi testado em 2004, e o processo para fabricação de etanol, dois anos depois.
Produtividade agronômica
O processo de produção de etanol a partir dos carboidratos da mandioca foi iniciado na década de 1970, com o programa Pró-Álcool, segundo Carvalho. Mas os experimentos foram gradativamente abandonados diante do sucesso do álcool de cana-de-açúcar.
"Existe muito espaço para ser conquistado em termos de produtividade agronômica. Não se pode ainda comparar com a produtividade da cana, mas o desenvolvimento tecnológico deverá seguir o mesmo caminho", disse.