Júlio Bernardes - Agenusp - 24/05/2006
A soja é a matéria-prima mais viável para a utilização imediata na produção de biodiesel. Segundo uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba (SP), a estrutura da produção, distribuição e esmagamento dos grãos torna seu uso vantajoso.
O estudo permitiu verificar que o preço do biodiesel com essa matéria-prima comprada no mercado variou entre R$0,902 por litro, na região Norte, e R$1,424, no Sul do Brasil.
A pesquisa estimou o preço do litro do combustível em cinco regiões do País com a utilização da oleaginosa e também de girassol, mamona, dendê e caroço de algodão, para unidades com produção de 34.800 litros por ano. Segundo o pesquisador Mauro Osaki, da Esalq, no Nordeste a matéria-prima mais barata para produção do combustível é o caroço de algodão, que levaria a um custo de R$0,712 por litro.
"A oferta, porém, depende da demanda pela produção de fibras, de onde se origina o resíduo de algodão usado na elaboração do biodiesel", explica Osaki. "O preço da soja estava baixo também devido à queda da cotação no mercado internacional e a desvalorização do dólar".
De acordo com o pesquisador, o óleo de girassol é o que tem mais potencial para uso em biodiesel. "Comprando a matéria-prima, o litro do combustível custaria R$0,859 no Sudeste e R$0,889 no Sul do Brasil", Na região Centro-Oeste, que possui clima mais favorável, se o plantio fosse incorporado à cadeia produtiva do biodiesel, o preço do litro seria de R$1,034."
Alternativas
Osaki ressalta, porém, que o girassol precisará de um investimento a longo prazo em pesquisa de sementes, tecnologia de plantio e logística de distribuição para ampliar a escala de produção."O governo deve investir em um plano de oferta de oleaginosas para evitar a dependência de uma única fonte", explica. "No Centro-Oeste, por exemplo, seria possível fazer a colheita da soja no verão e, do girassol, na 'safrinha', gerando oferta de duas oleaginosas no primeiro semestre."
O pesquisador alerta que a mamona, planejada para ser fornecida por meio de cultivos familiares no Nordeste, ainda possui um custo de produção elevado. "A produção é barata, mas o cultivo na região ainda é em pequena escala e com baixa produtividade, o que elevaria o preço do litro de biodiesel para R$1,585", calcula.
Nos últimos cinco anos, a média de produção nordestina foi de cerca de 672 quilos de óleo por hectare, enquanto em São Paulo é de 1,7 tonelada por hectare. "Os óleos de mamona, dendê e amendoim são considerados nobres e vendidos mais para consumo humano, o que encarece seu valor de mercado", relata Osaki.
O uso de amendoim no Sudeste do Brasil faria o litro do biodiesel custar R$1,874 e a compra de mamona fora da cadeia de produção no Nordeste levaria a um preço estimado de R$2,219 por litro. "Além de melhorar a produtividade das matérias-primas existentes, é necessário pesquisar o potencial de outras espécies, como o pinhão-manso nordestino."