Júlio Bernardes - Agência USP - 01/03/2006
A Petrobrás começa a distribuir neste mês parte dos 70 milhões de litros de biodiesel contratados junto a quatro empresas em leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP), realizado em novembro do ano passado. "A iniciativa é positiva", avalia o professor Weber Amaral, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba. "Porém, a distribuição ainda é experimental e a produção de biodiesel precisará de um grande aporte de recursos do governo e da iniciativa privada para chegar à maturidade."
Segundo o professor, que coordena o Pólo Nacional de Biocombustíveis, ainda não há velocidade na instalação de novas fábricas para atender a obrigatoriedade de adição de 2% de biodiesel ao diesel comum, que irá vigorar em 2008, gerando uma demanda anual de 800 milhões de litros de biocombustível.
"Uma usina leva de 12 a 18 meses para ser concluída, o que exigirá agilidade na homologação pelo governo e uma política de investimentos mais agressiva", alerta. "O leilão da ANP serviu para dar mais confiança aos investidores de que o programa de produção e uso do biodiesel se tornará realidade." Um novo leilão está marcado para o mês de abril. "O preço atual do litro do biodiesel, R$ 1,904, está cerca de 30% abaixo dos custos de produção", calcula o professor.
Produção
Amaral ressalta que os investimentos são necessários para superar problemas tecnológicos, reduzir despesas de produção e aproveitar novas matérias-primas. "Apesar da adição de biocombustível ainda não ser obrigatória, já existe uma demanda por parte de agentes, como prefeituras, com programas ambientais, transportadoras e empresas deembalagem, a qual supera a capacidade de produção atual."
O Pólo Nacional de Biocombustíveis pesquisou as matérias-primas mais adequadas em cada região brasileira, calculando os custos de produção e estimando a quantidade de litros de biodiesel obtidos por hectare. "Entre outras espécies, no Norte é a palma, no Centro-Oeste a soja, no Sul a canola e o girassol, e no Sudeste o caroço de algodão", relata Weber Amaral. "No Nordeste é a mamona, devido também à adoção do 'Selo Combustível Social', que reduz os impostos das usinas que comprarem matéria-prima em cooperativas de pequenos e médios agricultores."
Para o geólogo Orlando Cristiano da Silva, pesquisador do Centro Nacional de Referência em Biomassa (CENBio), sediado no Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, "o uso de agricultura familiar para produzir matéria-prima é desejável, pois fixa a mão-de-obra no local do cultivo, e com apoio governamental pode conviver com grandes propriedades para atender o aumento da demanda".
De acordo com Silva, que coordena projetos sobre óleos vegetais para uso em biodiesel, os produtores ainda dão pouca atenção ao uso do dendê, que pode ser obtido em cultivos familiares na Amazônia. "Embora a árvore precise crescer três anos para dar frutos, a produtividade é maior que a da mamona", afirma. "A espécie se adapta ao ecossistema local, enquanto uma expansão da fronteira agrícola da soja poderia ser temerária ao meio ambiente amazônico."