Redação do Site Inovação Tecnológica - 21/08/2003
Químicos da Universidade da Califórnia (Estados Unidos) desenvolveram um novo método de detecção de moléculas utilizando um leitor de CD comum, como os existentes em computadores. A descoberta fornece uma forma barata de classificação de moléculas e visualização de interações moleculares e mesmo uma alternativa para análises laboratoriais. Um artigo descrevendo a descoberta será publicado na edição de 21 de Setembro do periódico Journal of Organic and Biomolecular Chemistry.
"Nosso objetivo imediato é utilizar esta nova tecnologia para resolver questões científicas básicas no laboratório", afirma Michael Burkart, um dos autores da pesquisa. "Mas nossa esperança é que haverá muitas outras aplicações. Nossa intenção é tornar a descoberta disponível o mais amplamente possível e ver como outros cientistas utilizam a tecnologia."
Segundo Burkart e seu colega James La Clair, que patenteou a invenção, os laboratórios científicos freqüentemente utilizam raios laser para detectar moléculas. Logo, faria sentido construir um aparato de detecção de moléculas utilizando o laser mais comum no planeta, o famoso CD-player.
A técnica tira vantagem da tendência de que qualquer coisa que grude na superfície do CD interfira na capacidade do laser em ler os dados digitais gravados no disco. Os pesquisadores pegaram um CD de música clássica e melhoraram a reatividade química do plástico da superfíce do disco do lado que é lido pelo laser. As moléculas foram colocados em um cartucho vazio de impressora jato de tinta e foram "impressas" sobre o CD. Isto resultou em um CD com moléculas ligadas à sua superfície de leitura em locais definidos em relação aos minúsculos buracos em sua superfície metálica interna, buracos estes que representam os bits dos dados gravados. Quando o CD é colocado no leitor, o laser detecta um pequeno erro no código digital relativamente ao que ele lê de um CD sem as moléculas.
Para detectar proteínas ou outras moléculas grandes em uma solução como o sangue, por exemplo, o CD é inicialmente submetido a uma reação com a amostra. Tal como uma chave que entra apenas em uma fechadura determinada, algumas proteínas ligam-se a moléculas-alvo específicas. Dessa forma, moléculas específicas na superfície do CD podem ser usadas para "pescar" proteínas na amostra. A ligação dessas proteínas irá introduzir novos erros na leitura do CD. Além disso, como as moléculas na superfície do CD estão em locais conhecidos relativamente aos bits de informação, os erros dizem aos pesquisadores quais moléculas se ligaram às suas proteínas-alvo e, desta forma, se a proteína está ou não presente na amostra.
"Quantas pessoas nesse planeta podem realmente ouvir uma molécula se ligando a outra?", brinca La Clair. Comparativamente a equipamentos que hoje custam ao redor de US$100.000,00, a invenção dos pesquisadores, saindo por cerca de US$25,00 parece mesmo brincadeira.
Os pesquisadores esperam que, com a publicação de seu trabalho na literatura aberta, outros cientistas possam adaptar a tecnologia em novos formatos e para novas aplicações, resultando em uma ampla gama de kits de diagnósticos baratos.