Com informações da BBC - 07/04/2014
Endólitos
Quem visita o Deserto do Atacama, no norte do Chile, tem a impressão que nada poderia sobreviver nesse ambiente de rochas e areia.
É o lugar mais seco e um dos mais inóspitos do planeta. Algumas regiões podem ficar até 50 anos sem receber uma gota de chuva.
Mas o que também poderia ser a região mais sem vida do mundo pode ainda abrigar microrganismos chamados endólitos, que se escondem nos poros das rochas, onde há água suficiente para a sobrevivência deles.
"(Os microrganismos endólitos) se alimentam dos subprodutos de seu metabolismo," afirma Jocelyne DiRuggiero, microbióloga da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. "E todos se encontram nas rochas, é muito fascinante."
Para os cientistas, os endólitos são a prova da capacidade incrível de que micróbios têm de encontrar formas de sobreviver. Em quatro bilhões de anos de evolução, os microrganismos tiveram tempo suficiente para se adaptar aos extremos da Terra.
Mesmo assim, ainda fica a pergunta: será que existem lugares no nosso planeta em que nenhuma estrutura viva possa sobreviver?
Veja uma lista de condições extremas do nosso planeta, explicando os limites que elas impõem à existência de vida.
Calor
Nos locais mais quentes, o recorde de tolerância atualmente é de um grupo de organismos chamados de metanógenos hipertermófilos, que se desenvolvem em volta das fontes de águas quentes, ou hidrotermais, no fundo do mar.
Alguns destes organismos podem crescer em temperaturas de até 122ºC.
E a maioria dos pesquisadores afirma que, em teoria, o limite de temperatura para que exista vida é de 150ºC. A esta temperatura, segundo os cientistas, as proteínas se desfazem.
Isto significa que os microrganismos podem se desenvolver em volta destas fontes hidrotermais, mas não diretamente em seu interior, onde as temperaturas podem alcançar até 464ºC. O mesmo acontece com o interior de um vulcão ativo em terra.
"Realmente, acredito que a temperatura é o parâmetro mais hostil", disse Helena Santos, fisiologista microbiana da Universidade Nova de Lisboa e presidente da Sociedade Internacional de Extremófilos.
"Quando as coisas ficam muito quentes (a vida) é impossível, já que tudo é destruído", disse.
Pressão
Por outro lado, aparentemente as altas pressões oferecem menos problemas para a existência da vida.
Com isto, pode-se concluir que é o calor, e não a profundidade, que provavelmente, limita a que distância abaixo da superfície da Terra onde pode haver vida.
A temperatura de 6000ºC do centro da Terra impede toda forma de vida, apesar de a profundidade a que se encontra essa temperatura ainda esteja sendo investigada.
Cientistas descobriram que um microrganismo chamado Desulforudis audaxviator a cerca de 3,2 quilômetros de distância da superfície da Terra, em uma mina de ouro da África do Sul.
Este microrganismo provavelmente não teve contato com a superfície durante milhões de anos e sobrevive extraindo nutrientes das rochas que passam por desintegração radioativa.
Frio
A vida também pode existir em outro parâmetro extremo, o frio.
As bactérias do gênero Psychrobater podem viver normalmente abaixo dos -10ºC na Sibéria e na Antártida.
Há pouco tempo foram encontradas células vivas em um lago subglacial abaixo do gelo da Antártida. O lago hipersalino Deep Lake abriga espécies halófitas únicas, que sobrevivem a -20ºC.
Para sobreviver nestes ambientes, os microrganismos têm características como membranas e estruturas proteicas adaptadas e moléculas anticongelantes dentro de suas células.
Levando-se em conta que a Terra já ficou coberta de gelo várias vezes desde que o surgimento da vida no planeta, "um lago coberto de gelo na Antártida não parece tão extremo", disse Jill Mikucki, microbióloga da Universidade do Tennessee, Estados Unidos.
Radiação
A radiação também não impede a proliferação de microrganismos. Desde que eles não estiverem expostos diretamente a uma explosão atômica, eles podem se desenvolver. E isto já aconteceu em recipientes que guardavam resíduos radioativos ou perto do epicentro do desastre de Chernobyl, na Rússia.
O Deinococcus radiodurans, um dos organismos mais resistentes à radiação, já sobreviveu a viagens no espaço e pode suportar doses de até 15 mil grays, a medida padrão para medir radiação absorvida - humanos morrem com apenas 5 grays.
Outros organismos podem sobreviver em ambientes onde estão presentes elementos ou compostos químicos tóxicos, como o mercúrio e outros metais pesados e cianetos.
Nas águas termais de Kamchatka, no extremo leste da Rússia, por exemplo, vários microrganismos metabolizam o enxofre ou o monóxido de carbono.
"É difícil encontrar uma substância química que possa matar todo tipo de vida," disse Frank Robb, microbiólogo da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
Espaço
O espaço em torno do nosso planeta também não parece ser um lugar muito aconchegante para a vida, com muito calor (sob o Sol) ou muito frio (na sombra da Terra) e repleto de radiação.
Mas, em 2010, várias bactérias sobreviveram por 553 dias no espaço, do lado de fora da Estação Espacial Internacional.
Em 2012, outro experimento mostrou que um verme famoso, o C. Elegans, vive melhor no espaço que na Terra.
Pesquisas indicam também que as frias crateras de Marte podem abrigar vida microbiana, mesmo com uma atmosfera extremamente rala.