Com informações da ESA - 31/03/2012
Gelos azuis da Antártica
O satélite Cryosat, conhecido como o "satélite do gelo", detectou uma inesperada elevação da cobertura de gelo da Antártica.
Depois de diminuírem 5 centímetros nos períodos 1991-2000 e 2000-2008, os chamados gelos azuis da Antártica apresentaram uma elevação inesperada de 9 centímetros em apenas dois anos, de 2008 a 2010.
A medição foi confirmada no local por cientistas da Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha.
As medições em campo são feitas para aferir as medições feitas pelo satélite a partir do espaço, dando confiabilidade aos resultados.
Para garantir que o CryoSat recolha dados precisos das alterações na espessura dos gelos terrestres - da Antártica e do Ártico -, os cientistas obrigam-se a um esforço contínuo, por vezes em alguns dos ambientes mais inóspitos do planeta.
Estas campanhas em particular foram feitas em um planalto desolado, conhecido como a região do gelo azul. Como o nome sugere, esta região única apresenta uma grande extensão de gelo azul brilhante, desprovido de neve.
Aferição do satélite
É exatamente esta ausência de neve, numa superfície incrivelmente gelada, que permite que esta região possa ser usada para a verificação da precisão do radar altimétrico do CryoSat.
Por não haver neve, os sinais de radar emitidos pelo altímetro do CryoSat passam pelo gelo cintilante e voltam para o satélite.
A altura do gelo é então determinada a partir da diferença entre o tempo de emissão e o de recepção do sinal.
Como o gelo normalmente fica coberto por neve, o sinal do radar tem de penetrar nesta camada superior antes de atingir o gelo - um fato que pode influenciar as medições da altura do gelo, feitas pelo CryoSat.
As medições feitas na superfície dura e brilhante da região dos gelos azuis são por isso muito importantes para a verificação, por comparação, dos dados do CryoSat.
Elevação do gelo da Antártica
Se, por um lado, as experiências em campo são concebidas para a validação dos instrumentos do satélite, a análise dos dados de duas campanhas no solo, em 2008-2009 e 2010-2011, mostrou um resultado surpreendente: que nesta parte da Antártida houve um aumento na altura dos gelos de 9 cm, em média, de um período para o outro.
Os cientistas alemães enfrentaram um tempo severo para mapear as mudanças sutis na altura dos gelos, numa área de mais de 2.500 km quadrados de gelo.
As medições foram feitas no solo, com sofisticados equipamentos de GPS, puxados por carros de neve.
Cientistas do Instituto Alfred Wegner também fizeram medições a partir de um avião com um instrumento que simula o radar altímetro do CryoSat.
Pela análise dos dados recolhidos durante as campanhas, e também com o recurso às bases de dados de vinte anos de medições, os cientistas determinaram as alterações na altura do gelo em três períodos diferentes.
Em 1991-2000, houve uma descida de cerca de 5 cm, uma tendência que se estendeu ao período de 2000-08. No entanto, o terceiro período, em 2008-2010 mostra uma subida inesperada.
Reinhard Dietrick da TU Dresden disse, "Este interessante resultado, que mostra uma retrocesso na altura, foi possível graças às campanhas anteriores ao lançamento do CryoSat, em 2010.
"É claro que os resultados são preliminares mas com esta inversão em mente, seria muito interessante verificar se o aumento na altura permanece no futuro," disse Reinhard Dietrick, coordenador das medições dos gelos azuis.
Gelos do Ártico
Na outra ponta do planeta, está em andamento outra campanha dedicada ao CryoSat, que se inicia esta semana.
Equipes da ESA e da NASA, e de cientistas da Europa e do Canadá estão se preparando para medir o gelo do Ártico, no solo e no ar, enquanto o CryoSat passa por cima deles.
Lançado há praticamente dois anos, o CryoSat é um satélite dedicado à monitoração das alterações na espessura dos gelos marinhos flutuando nos oceanos polares e das variações na espessura dos vastos lençóis de gelo que cobrem a Groenlândia e a Antártida, para melhorar a nossa compreensão das relações entre o gelo e o clima.