Redação do Site Inovação Tecnológica - 06/09/2013
Caça às escuras
O projeto DES (Dark Energy Survey) começou oficialmente suas observações.
O objetivo do projeto é entender porque a expansão do universo está se dando de forma acelerada - ao invés de desacelerar pelo efeito da gravidade - e sondar a misteriosa energia escura, que se acredita ser a causa desse fenômeno.
Instalada no Chile, a câmera de 570 megapixels do DES (DECam) será utilizada, nos próximos cincos anos, para mapear um oitavo do céu, ou 5 mil graus quadrados, com um detalhamento sem precedentes.
Este é o ponto culminante de dez anos de planejamento, construção e testes realizados por 25 instituições em seis países, incluindo o Brasil.
"É um momento emocionante na cosmologia, quando podemos utilizar observações do universo distante para nos dizer sobre a natureza fundamental da matéria, energia, espaço e tempo", diz o diretor do DES, Josh Frieman.
A ferramenta principal da pesquisa é a DECam, montada no telescópio de 4 metros Victor M. Blanco no Observatório Interamericano do Cerro Tololo, no Chile.
A câmera inclui cinco lentes de grande precisão, sendo a maior de quase 1 metro de diâmetro. Juntas, elas captam imagens nítidas em todo o seu campo de visão.
Ela é o mais poderoso instrumento de pesquisa de sua espécie e, a cada imagem obtida, será capaz de registrar a luz de mais de 100 mil galáxias, localizadas a até 8 bilhões de anos-luz de distância.
Em cinco anos, o DES obterá imagens coloridas para 300 milhões de galáxias e 100 mil aglomerados de galáxias, e deverá descobrir cerca de 4 mil supernovas, muitas formadas quando o universo tinha metade de seu tamanho atual.
Serão também observadas em torno de 100 milhões de estrelas de nossa galáxia e suas vizinhas no espaço.
Como encontrar a energia escura
As observações não possibilitarão "ver" a energia escura diretamente - ela é chamada escura porque nenhum instrumento conhecido consegue detectá-la, embora seus efeitos sejam observáveis.
Na verdade, o DES poderá até mesmo descartar a existência da energia escura.
"Estamos nos preparando para examinar esse grande mapa de galáxias do universo como uma maneira de encontrar evidências para a energia escura, caracterizar a sua natureza, e entender como ela evoluiu com a época cósmica", afirma Ofer Lahav, da Universidade College de Londres. "Uma meta ainda mais desafiadora para o DES é dizer se o que causa a aceleração do universo é de fato a energia escura ou algo completamente diferente."
O DES utilizará quatro métodos para investigar a energia escura:
O Brasil no DES
O Brasil está no DES por intermédio do LIneA (Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia), sediado no Observatório Nacional (ON).
"Os dados já coletados durante a fase de verificação científica cobrem várias regiões do céu dentro da área prevista para o DES. Catálogos de fontes, com medidas de posição, magnitude e parâmetros de forma já foram gerados para a maior parte desses dados, abrindo a temporada de análise da qualidade dos dados frente ao padrão mínimo necessário para atingir os objetivos científicos, ao que se chama de 'testes de aceitação'. Isto é feito por software desenvolvido por brasileiros", explica Luiz Nicolaci da Costa, pesquisador do Observatório Nacional que coordena o DES-Brazil.
"Além da oportunidade de cientistas brasileiros participarem de um projeto de grande impacto, existe a oportunidade de nossos estudantes e pós-doutorandos interagirem diretamente com os demais participantes da colaboração, consolidando seu processo de formação como cientistas", salienta Nicolaci.