Com informações da Agência Brasil - 01/07/2015
Ciência de larga escala
O projeto Sirius prevê a construção de uma nova fonte de luz síncrotron no Brasil até meados de 2018.
O diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), responsável pelo projeto, Antônio José Roque da Silva, explica que o funcionamento do acelerador de partículas de quarta geração é um salto para a ciência brasileira, com inúmeras aplicações em áreas como biotecnologia, nanotecnologia, paleontologia e farmácia.
"É uma área da ciência de larga escala, com um grande laboratório e infraestrutura, que permite ao Brasil dialogar com os outros países em pé de igualdade, uma coisa rara na ciência brasileira," disse.
A Suécia começou antes do Brasil a construção de um acelerador de quarta geração e vai ser o primeiro país a utilizar a nova técnica. Segundo Roque, a tecnologia do Sirius é mais avançada. "Estamos à frente dos Estados Unidos e dos países europeus".
"Com a tecnologia disponível hoje, o equipamento nacional será o mais moderno do mundo em luz síncrotron - ferramenta usada para estudar qualquer tipo de material no nível atômico e molecular. "Ele será dez vezes melhor que as máquinas que operam hoje no mundo, de forma pioneira. É realmente uma ferramenta incrível para o Brasil", garante o diretor do LNSN.
Acelerador Sirius
Enquanto os protótipos finais de componentes da máquina de 518,4 metros de circunferência são testados, o novo prédio de 68.000 metros quadrados, que vai abrigar o acelerador e 40 estações de trabalho, está sendo construído em Campinas, ao lado do atual LNLS.
Além de ser um dos maiores, o Sirius também é um dos projetos mais caros da história da ciência nacional, orçado em R$ 1,5 bilhão. A maior parte do projeto será custeada pelo governo federal, com o orçamento garantido pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O projeto foi citado nesta semana pelo editorial da revista Nature Photonics como um dos principais investimentos de países em desenvolvimento na área. "Novas fontes de síncrotron estão sendo encomendadas e construídas ao redor do mundo, com ênfase em países em desenvolvimento. Tendo em conta os benefícios óbvios, a tendência é encorajadora," diz o editorial.
Luz síncrotron
O acelerador é um grande equipamento que faz com que elétrons circulem em velocidade próxima da luz, dentro de uma espécie de tubo chamado anel de armazenamento.
Cada vez que a trajetória desses elétrons é desviada com o uso de ímãs, eles emitem raios X, ultravioleta e infravermelho, a chamada luz síncrotron.
A luz emitida é uma radiação de alto brilho, altamente focalizada. Essa luz é coletada pelas chamadas linhas de luz, que funcionam de forma parecida com microscópios.
"O pesquisador seleciona a faixa de frequência de interesse, o raio X, por exemplo, e incide sobre materiais, orgânicos e inorgânicos, como sementes, plásticos ou proteínas. Com a luz síncrotron é possível estudar a estrutura da matéria no nível de átomos e moléculas, verificando a composição e geometria delas", explica José Roque.
Com a nova fonte de luz síncrotron mais potente do acelerador Sirius será possível usar técnicas recentes, como a tomografia de células, causando impacto relevante nas áreas de biotecnologia, nanotecnologia e análise de materiais. A tecnologia do Sirius é toda nacional e a maior parte dos componentes estão sendo construídos no Brasil para estimular a indústria brasileira.
"Os mais de mil ímãs necessários para o Sirius, extremamente sofisticados e de alta qualidade de fabricação, estão sendo produzidos como resultado de uma parceria de mais de dois anos com uma empresa de Santa Catarina. Poucos lugares do mundo conseguem produzir", afirma Roque, acrescentando que parte dos componentes já está pronta e a expectativa é começar a montagem do Sirius em setembro de 2017 que deve levar cerca de nove meses.