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Robótica

Meio-homem, meio-máquina?

Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/09/2001


Cientistas do Instituto Max Planck, da Alemanha, anunciaram o sucesso de uma experiência que ligou múltiplas células do cérebro com um microprocessador, construindo o primeiro mecanismo que é metade circuito eletrônico inerte e metade um organismo vivo.

As células foram conectadas com transistores em escala microscópica, como os que formam os microprocessadores atuais. Foram feitas ligações entre as células, entre os transistores e entre células e transistores. A experiência demonstrou que as células conseguem se comunicar não somente entre si, mas também com os transistores. Esse é, na verdade, o grande desafio para a construção de mecanismos bio-mecânicos: fazer com a parte bio fale com a parte mecânica.

O cérebro humano é muito diferente dos circuitos de um computador. Retire um único transístor, medindo alguns nanômetros de comprimento, do interior de um microprocessador que possui milhões deles e prepare-se para comprar outro processador; esse não funcionará mais. Mas retirar vários neurônios do cérebro humano não causa preocupação. Os neurônios restantes de rearranjam para substituir os que foram retirados. Por isso, não se pode pensar em substituição de neurônios por transistores. O que move as pesquisas é a busca de se construir órgãos que possam ser conectados diretamente ao complexo sistema nervoso humano. A cena de Guerra nas Estrelas, onde a mão decepada de Skywalker é substituída por outra, mecânica, deixará então de ser ficção.

A dificuldade de se chegar a esse ponto, está na construção da interface entre os sistemas eletrônicos ou mecânicos e o sistema nervoso humano. Por isso a pesquisa divulgada no último dia 28 de Agosto suscitou tanto alarde. Claro que o inverso será também verdadeiro: se se pode adaptar mecanismos ao corpo humano, poder-se-á também adaptar partes vivas aos computadores, dando-lhes capacidade de aprendizado. Muitas questões éticas ainda serão levantadas. Mas ninguém poderá negar a pertinência de pesquisas que possam construir retinas artificiais que devolverão a visão a milhões de pessoas ou que possam fazer mutilados voltarem a andar, ou ainda ajudar pessoas vítimas de derrames a se tornar novamente independentes e capazes.

A pesquisa não utilizou células do cérebro humano. As células do cérebro de uma lesma são maiores e mais fáceis de manusear do que as humanas ou as de um rato. Mas funcionam essencialmente da mesma forma. Cada célula foi colocada em pequeno receptáculo, para que ficasse fixa. Em seguida, com o auxílio de cola, foi fixada a um transistor de efeito de campo (MOS-FET). No outro lado do transístor foi fixada outra célula, depois outro transístor e assim por diante. Ao se estimular o primeiro neurônio, um processo chamado de sinapse, o transístor detectou o sinal elétrico e estimulou o segundo neurônio e assim sucessivamente. A experiência ainda é muito primitiva mas, como sempre acontece em casos parecidos, não apenas o progresso pode aparecer rapidamente, como diversos outros grupos de pesquisa ao redor do mundo se interessarão por algo que deixou o campo da ficção para se mostrar como um campo de uma realidade que cada um poderá ajudar a construir.

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