Informática

Matrix ou Grande Irmão?

Redação do Site Inovação Tecnológica - 06/06/2003

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos está solicitando propostas para a construção de uma base de dados de vidas humanas individuais. Já batizado de LifeLog (Diário de Vida, numa tradução livre), o sistema deverá registrar cada comunicação, encontro, transação e mesmo sensações geradas por uma vida de interações sociais. O objetivo do LifeLog é que ele seja capaz de traçar todas as "tarefas" de uma vida individual em termos de eventos, estados e relacionamentos.

Funcionalmente, o LifeLog consistirá de três componentes: captura de dados e seu armazenamento, utilizando uma variedade de sensores, inclusive médicos. A seguir os dados deverão ser abstraídos e representados de forma a permitir cruzamentos com outros eventos ou tendências. Finalmente, deverá ser desenhada uma interface de acesso aos dados.

Através de inferência e simulação, o sistema irá gerar múltiplas camadas de representação, em níveis sucessivos de crescente abstração. Os dados que abastecerão a base serão abstraídos em seqüências de eventos e estados, os quais serão agregados em tarefas e episódios para produzir uma linha de tempo que constituirá uma "memória episódica" do indivíduo. Padrões de eventos da linha de tempo darão sustentação a rotinas de identificação, relacionamentos e hábitos. Preferências, planos, objetivos e outras marcas de intencionalidade estarão no mais alto nível.

O sistema se concentrará em três categorias principais de dados: dados físicos, transacionais e dados de meio-ambiente ou contexto. Estes dados deverão ser capturados em base "Anywhere/anytime" (qualquer lugar, qualquer hora), através de sensores controlados pelo próprio programa. Deverão ser previstos sensores visuais, auditivos e mesmo táteis, destinados a capturar o que o usuário vê, ouve e sente. GPS, bússola digital e sensores inerciais poderão capturar os movimentos e orientação da pessoa, enquanto sensores biomédicos capturarão seu estado físico.

O LifeLog também deverá capturar as interações baseadas em computador ao longo do dia, como e-mail, calendário, ICQ e transações baseadas na Web, assim como outros aplicativos, armazenando os dados em formato apropriado. Transações de voz poderão ser capturadas através da gravação de conversas telefônicas tradicionais ou via Internet, devendo incluir números de origem e destino da chamada. Deverá haver a possibilidade de escaneamento de fax e outras correspondências escritas. Finalmente, deverá ser possível capturar todos os tipos de informações com os quais a pessoa entrar em contato durante o dia, incluindo TV, rádio, jornais, revistas, livros e quaisquer outros documentos, em papel ou meio eletrônico.

O novo programa "Grande Irmão" poderá ser utilizado como um sistema autônomo para abastecer de dados um diário multimídia automatizado. Utilizando um mecanismo de busca, que estiver consultando o diário poderá facilmente recuperar uma tarefa específica do passado ou relembrar uma experiência de apenas alguns segundos atrás, na totalidade dos detalhes, incluindo imagens, áudio e vídeo e mesmo um "replay" do evento.

Mas, além de operar no formato autônomo, o LifeLog deverá também servir como um subsistema para dar suporte a uma ampla variedade de outras aplicações, incluindo aquelas de interesse pessoal, médica, financeira e outros tipos de assistentes, além de ferramentas de ensino e treinamento.

O Departamento de Defesa espera que, à medida em que um maior número de pessoas "adquirir" (sic) cópias do LifeLog , tarefas colaborativas poderão ser facilitadas pela interação dos logs de vida de cada um dos usuários. Acessos anônimos a dados de logs individuais poderão auxiliar em pesquisas médicas e na detecção rápida de epidemias emergentes.

Mas os militares esperam também utilizar a estrutura de abstração do sistema em um modo de síntese que permitirá a construção de personagens de jogos e robôs humanóides que poderão viver vidas "realísticas". Há uma grande preocupação nesse meio quanto à reposição de pessoal treinado, com profundo conhecimento e experiência, por outros mais jovens, com a mesma inteligência e confiabilidade. No limite, o Departamento de Defesa espera um dia substituir seus aposentados por autômatos robotizados que comportem-se exatamente como seus antecessores. Mas, até o momento, não há tecnologia que permita que se atinja esse objetivo.