Thiago Romero - Agência FAPESP - 08/02/2007
Mediante um cadastro prévio, um sistema de alerta é acionado sempre que uma tempestade for detectada na área delimitada pelo usuário. Em seguida, uma mensagem de texto é enviada via celular com o objetivo de auxiliar na prevenção dos riscos causados por chuvas intensas.
Essa é a essência do sistema Alerta de Tempestades Via WAP, desenvolvido pelos analistas de informática Carlos Alberto de Agostinho e Simone Cincotto Souto, do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru, interior paulista.
O sistema, que utiliza a tecnologia WAP ("Wireless Application Protocol", na sigla em inglês), um protocolo de comunicação usado para transportar aplicações de internet a aparelhos móveis, funciona a partir de um ponto pré-definido dentro da área de cobertura dos radares de tempo do IPMet, instalados nas cidades de Bauru e Presidente Prudente. O raio de cobertura é de 240 quilômetros para cada radar, área que abrange cerca de 70% do território paulista.
"O sistema é útil para profissionais em atividades de campo, em locais sem acesso à internet, que precisam saber da aproximação de uma tempestade que pode prejudicar seu trabalho", disse Agostinho à Agência FAPESP. Basta o usuário delimitar um ponto de referência no solo e os radares passam a monitorar as chuvas em um raio de até 60 quilômetros. Apenas as mensagens de texto do serviço são cobradas.
Segundo Agostinho, por mais rápida que seja a velocidade de deslocamento de uma tempestade, a distância de 60 quilômetros permite que o usuário tenha, no mínimo, 30 minutos para tomar alguma providência.
Uma função de alerta é gerada pelo sistema operacional dos radares após uma seqüência de varreduras na atmosfera, que ocorrem a cada sete minutos e meio. Ao identificar uma intensidade de chuva maior que 23 milímetros por hora - 23 litros de água por metro quadrado -, o sistema aciona o sinal de alerta e envia os dados ao celular.
Caracteres exclusivos
Os pesquisadores desenvolveram um sistema exclusivo de codificação para facilitar o entendimento dos dados, levando em conta a limitação dos caracteres nos aparelhos celulares.
"O raio de 60 quilômetros foi dividido em três anéis para que o usuário tenha noção da distância da tempestade: até 20, 40 e 60 quilômetros. Pontos cardeais e colaterais são utilizados para determinar a direção da tempestade. Desse modo, é possível saber, por exemplo, que a chuva está vindo da direção sudeste e se localiza no anel 40, ou seja, entre 20 e 40 quilômetros", disse Agostinho.
Em uma única mensagem, o usuário recebe o número de tempestades detectadas no ponto de interesse, além de sua direção e distância de aproximação. Os torpedos, que custam em média R$ 0,50, são enviados automaticamente à medida que as varreduras dos radares detectarem novas tempestades.
O analista de informática do IPMet ressalta que a proposta do sistema não é funcionar como um boletim de previsão de tempo. "Ele não oferece previsões, mas alertas sobre a situação instantânea das tempestades potencialmente severas", explica. Profissionais da defesa civil, de companhias de extração mineral, pessoas que trabalham em alto-mar e técnicos de empresas de energia elétrica e de construção civil são alguns usuários potenciais.
O próximo passo do trabalho será utilizar o mesmo sistema para transmitir imagens de satélite. "Estamos fazendo os primeiros testes para esse tipo de transmissão, cujas imagens são semelhantes às que vemos nos telejornais. Nesse caso, o usuário poderá visualizar toda a trajetória da tempestade. Mas, como a aplicação desse tipo de tecnologia tem um custo muito elevado, ainda estamos em busca de parcerias com operadoras de telefonia celular", explica Agostinho.