Com informações do ESO - 22/11/2012
Criador da humanidade
Astrônomos utilizaram vários telescópios, inclusive um no Brasil, para observar o planeta-anão Makemake, no momento em que este passou em frente a uma estrela distante, bloqueando assim a radiação emitida pela estrela.
Makemake foi inicialmente conhecido por 2005FY9.
Descoberto alguns dias depois da Páscoa, em Março de 2005, o objeto adquiriu o nome informal de Coelhinho da Páscoa.
Em Julho de 2008 foi-lhe dado o nome oficial de Makemake. Makemake é o criador da humanidade e deus da fertilidade, nos mitos dos povos nativos da Ilha da Páscoa.
Makemake é um dos cinco planetas-anões atualmente reconhecidos pela União Astronômica Internacional. Os outros são Ceres, Plutão, Haumea e Éris.
As novas observações permitiram verificar pela primeira vez que o planeta-anão Makemake - que pertence à classe dos chamados objetos transnetunianos - não se encontra rodeado por uma atmosfera.
O pequeno planeta gelado tem uma órbita que o leva ao Sistema Solar exterior e pensava-se que ele teria uma atmosfera como a de Plutão.
No entanto, verificou-se agora que não é o caso: o planeta-anão Makemake não possui uma atmosfera.
Sem atmosfera
O planeta-anão Makemake tem cerca de dois terços do tamanho de Plutão e viaja em torno do Sol em uma órbita distante, que se situa além de Plutão, mas mais próximo do Sol do que Éris, o planeta-anão de maior massa conhecido no Sistema Solar.
Observações anteriores do gélido Makemake mostraram que este corpo é similar aos outros planetas-anões, o que levou os astrônomos a pensarem que ele possuiria uma atmosfera semelhante à de Plutão.
No entanto, este novo estudo mostra que, tal como Éris, Makemake não se encontra rodeado por uma atmosfera significativa.
A equipe liderada por José Luis Ortiz (Instituto de Astrofísica de Andalucía, CSIC, Espanha), combinou várias observações obtidas por três telescópios situados no Chile e no Brasil, à medida que Makemake passava em frente a uma estrela distante - ele passou em frente da estrela de fraca luminosidade NOMAD 1181-0235723 (NOMAD refere-se a Naval Observatory Merged Astronomic Dataset). O fenômeno durou apenas um minuto, por isso os astrônomos tiveram que utilizar câmeras especializadas de alta velocidade.
"Quando Makemake passou em frente da estrela, a radiação emitida por ela foi bloqueada, a estrela desapareceu e apareceu muito abruptamente, em vez de desaparecer lentamente e depois ficar gradualmente mais brilhante. Isto significa que o pequeno planeta anão não tem uma atmosfera significativa," diz José Luis Ortiz.
"Pensava-se que Makemake tivesse desenvolvido uma atmosfera - o fato de não haver sinais de uma, mostra apenas o quanto temos ainda a aprender sobre estes corpos misteriosos. Descobrir as propriedades de Makemake pela primeira vez é um grande passo em frente no estudo deste grupo seleto de planetas-anões gélidos," completou.
Dados sobre Makemake
A ausência de luas ao redor de Makemake e a grande distância que ele se encontra de nós, tornam-no difícil de estudar, por isso o pouco que sabemos dele é apenas aproximado - por exemplo, Plutão tem cinco luas conhecidas.
No caso de objetos que têm em órbita um ou mais satélites, os movimentos destas luas podem ser utilizados para deduzir a massa do objeto. Isto não foi possível para o caso de Makemake.
As novas observações da equipe acrescentam muito mais detalhes ao conhecimento deste objeto - determinando o seu tamanho de forma mais precisa, impondo limites a uma possível atmosfera e estimando a densidade do planeta-anão pela primeira vez.
Os dados também permitiram medir qual a quantidade de luz solar que é refletida pela superfície do planeta - o seu albedo. O albedo de Makemake é cerca de 0,77, comparável ao da neve suja, maior que o de Plutão, mas menor que o do Éris. Um albedo de 1 representa um corpo que reflete perfeitamente, e um albedo de 0 representa uma superfície negra, que não reflete nada.
As observações, juntamente com resultados anteriores, indicam que Makemake tem uma densidade de 1,7 ± 0,3 gramas por centímetro cúbico o que, por sua vez, permitiu à equipe inferir a forma e a aparência de um esferoide oblato - uma esfera ligeiramente achatada em ambos os pólos - com eixos de 1.430 km (± 9 km) por 1.502 km (± 45 km).
Ocultação estelar
Conseguiu-se observar Makemake com tantos detalhes, apenas porque este passou em frente de uma estrela - um fenômeno conhecido como uma ocultação estelar.
Estas oportunidades raras permitem aos astrônomos descobrir muitas coisas sobre as atmosferas, muitas vezes tênues e delicadas, que se encontram em torno destes distantes mas importantes membros do Sistema Solar e fornecem informações precisas sobre as suas outras propriedades.
As ocultações são particularmente incomuns no caso de Makemake, já que este é um objeto que se move numa região do céu com relativamente poucas estrelas. Predizer de forma precisa e detectar estes eventos raros é extremamente difícil, e a observação bem-sucedida levada a cabo por uma equipe de observação bem coordenada, espalhada por diversos locais em toda a América do Sul, é uma façanha extraordinária.
"Plutão, Éris e Makemake estão entre os maiores exemplos dos inúmeros corpos gélidos que orbitam muito longe do Sol," diz José Luis Ortiz. "As nossas novas observações fizeram avançar muito o conhecimento sobre um dos maiores, Makemake. Poderemos agora usar esta informação para explorar mais a fundo os intrigantes objetos que se situam nesta região do espaço."