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Teoria dos multiversos ganha força

Redação do Site Inovação Tecnológica - 29/09/2014

Inflação cósmica balança, multiverso ganha firmeza
O mapa do céu gerado pelo Planck mostra regiões mais empoeiradas (vermelho) e menos empoeiradas (azul). A região observada pelo BICEP2 (retângulo preto) não está entre as menos empoeiradas, o que deve explicar uma porção substancial dos resultados interpretados como ondas gravitacionais (polarizações de modos B).
[Imagem: Planck Team]

Poeira na teoria

Em Março deste ano, uma equipe de astrofísicos norte-americanos anunciou ter detectado ondas gravitacionais que reforçariam a teoria do Big Bang, eventualmente a primeira comprovação experimental da inflação cósmica.

Em Junho, porém, quando o artigo foi revisado por outros cientistas e publicado, a equipe já admitia que os sinais eventualmente detectados poderiam ser parcialmente devidos à poeira cósmica da nossa própria galáxia.

Agora, os resultados preliminares da equipe do telescópio espacial Planck confirmam que a área observada pelo BICEP2 tem poeira suficiente para invalidar as conclusões iniciais, ao menos em parte.

Sai inflação, entram multiversos

Contudo, a surpresa é que agora outros físicos estão defendendo que, além de não comprovar a inflação cósmica, os resultados obtidos na verdade descartam esse processo essencial para o modelo do Big Bang e reforçam uma hipótese oposta - a chamada teoria dos multiversos.

David Parkinson e seus colegas da Universidade de Queensland, na Austrália, afirmam que, já descartada a poeira, qualquer sinal de ondas gravitacionais que possa ter sido detectado pelo BICEP2 - a chamada polarização de modos B - na verdade descarta qualquer "forma razoável de teoria inflacionária".

A referência a "formas razoáveis" de uma teoria lembra que, nesse campo, há muito mais conjecturas do que sequer hipóteses - quanto menos teorias. São essencialmente modelos matemáticos, que alguns físicos afirmam ser "tão ultrassimplificados" que não poderiam ser usados para sugerir qualquer indício detectável experimentalmente - aí incluídas as ondas gravitacionais.

De qualquer forma, é o melhor que temos hoje. Ocorre que a equipe australiana afirma que mesmo os melhores desses modelos são descartados pelas observações.

"O que a inflação [cósmica] prevê é justamente o reverso do que nós descobrimos. Quantos modelos inflacionários [os dados] descartam? A maioria deles, para ser honesto," disse Parkinson.

O artigo de Parkinson e seus colegas foi colocado no repositório arXiv, mas ainda não foi analisado profundamente por outros cientistas - e mesmo esta análise dependerá dos resultados finais da equipe do telescópio Planck, que está se mostrando extremamente cuidadosa em suas análises, e só deverá publicar os resultados finais no mês que vem.

Mas a proposta já está ecoando na comunidade de astrofísicos.

Inflação cósmica balança, multiverso ganha firmeza
A teoria dos multiversos foi antecipada por um teólogo da Idade Média.
[Imagem: Tom C. B. McLeish et al.]

Não é tão simples

Katherine Mack, astrofísica da Universidade de Melbourne, concorda que encaixar os modelos de inflação cósmica nos dados do BICEP2 exige tantos "truques matemáticos" que se perde a chamada relação de consistência da inflação, "algo que é considerado absolutamente básico para a inflação," disse ela - essa relação de consistência correlaciona a amplitude das ondas gravitacionais primordiais com a distribuição de matéria no Universo.

"O problema mais profundo é que, uma vez que a inflação começa, ela não termina da forma como estes cálculos simplistas sugerem," disse defende Paul Steinhardt, da Universidade de Princeton, um dos criadores da teoria inflacionária, em entrevista à revista New Scientist.

"Em vez disso, devido à física quântica, ela leva a um multiverso, onde o universo se divide em um número infinito de fragmentos. Os fragmentos incluem todas as propriedades concebíveis conforme você vai de um para o outro. Assim, não faz nenhum sentido dizer o que a inflação prevê, exceto dizer que ela prediz tudo. Se for fisicamente possível, então acontece no multiverso," explica ele.

Steinhardt acha que não vale a pena introduzir "um multiverso de possibilidades" para explicar a inflação - mas também que a inflação não é a explicação simples e convincente que todos estão procurando.

Opiniões à parte - os fóruns de física neste momento têm delas para todos os gostos - o fato é que todos terão que aguardar ansiosamente os resultados do Planck no mês que vem, e então ver quais truques matemáticos serão possíveis para cada um manter viva a teoria de sua preferência - e quais delas terão que ceder às evidências.

Por enquanto, a "comunidade dos multiversos" parece estar ganhando força.

Bibliografia:

Artigo: Tensors, BICEP2, prior dependence, and dust
Autores: Marina Cortês, Andrew R. Liddle, David Parkinson
Link: http://arxiv.org/abs/1409.6530
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