Com informações da Agência Brasil - 16/07/2012
O Programa Espacial Brasileiro deveria tentar fazer menos atividades para ter mais resultados.
Esta é a sugestão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que realizou um estudo sobre os desafios e as oportunidades para a indústria espacial nacional.
Nichos espaciais
O programa espacial brasileiro, que já tem 50 anos, não conseguiu obter resultados significativos nessas cinco décadas.
"Temos meio satélite e 0,4 de um foguete lançador," criticou Flávia de Holanda Schmidt, técnica do IPEA. Para ela, "o escopo" do programa não é bem definido. "Talvez a gente possa fazer uma coisa menor com mais sucesso", ponderou.
Um dos nichos que o país já demonstrou grande capacidade, segundo Flávia Schmidt, é o lançamento do veículo suborbital para transporte de experimento científico, como o recente do foguete brasileiro VS-40M, lançado da Noruega no final de junho para transportar um experimento do Centro Espacial Alemão (DLR).
A opinião da pesquisadora é compartilhada por especialistas como Geovany Araújo Borges, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB), e Carlos Alberto Gurgel Veras do Departamento de Engenharia Mecânica também da UnB, presentes ao lançamento do estudo do IPEA.
"Mal conseguimos ter nossos satélites", lembrou Borges. "O mercado [da indústria espacial] está em mudança de paradigma", disse Veras ao defender a focalização como aconteceu no caso da Embraer, empresa nacional especializada em aviões para voos regionais.
Falta de vontade política
Além da falta de foco, o Programa Espacial Brasileiro padece com a descontinuidade de recursos, desestimulando o interesse de fornecedores.
"Para permanecer no setor, essas empresas têm que ver um horizonte, uma demanda contínua para as atividades delas. O ambiente tem que ser favorável", disse a pesquisadora, salientando que os planos, programas e estratégias do governo precisam ser executados. "Não basta ser uma declaração de intenções".
Flávia Schmidt recomenda que o Estado, as empresas e a comunidade científica "se articulem melhor" e "organizem a demanda" para o programa espacial, vinculando as iniciativas às atividades de urgência social (como fornecimento de internet banda larga em áreas sem cabeamento óptico, tele-educação e telemedicina) e de grande potencial econômico (como agronegócio, energia e construção civil).
Esse foi o caminho, por exemplo, seguido pela Índia e China, que "enraizaram" seus programas espaciais dentro dos projetos de desenvolvimento econômico e, apesar de terem iniciado depois do Brasil, têm hoje programas espaciais mais exitosos.
Pouco mais de uma dezena de países têm experiência com projetos espaciais e o Brasil ocupa a última posição no ranking mundial de competitividade espacial, segundo o Futron's 2009 Space Competitiveness Index, levantamento internacional citado no estudo do IPEA .
Ampliar o foco
A restrição das atividades do programa espacial contraria, no entanto, a Estratégia Nacional de Defesa (END) que defende o "domínio completo" dos ciclos de produção de satélite, lançamento e comunicação, e o Plano Plurianual (PPA 2012/2015) que prevê o desenvolvimento de oito satélites e o lançamento de 40 foguetes suborbitais e de treinamento.
Conforme a pesquisa do instituto, o Brasil tem 177 empresas fornecedoras de serviços e peças para a área espacial, sendo 71 indústrias de transformação que concentram 79% dos trabalhadores do setor. Quase 78% das empresas estão instaladas no estado de São Paulo, principalmente em São José dos Campos.
O cruzamento com dados do Ministério do Trabalho indica que existem mais de 43 mil empregados no setor, o equivalente a 278 pessoas por empresa. A escolaridade média no setor é 11,6 anos de estudo e 37% da mão-de-obra tem nível superior (8,7% são engenheiros). A renda média dos trabalhadores é R$ 2.566,12. As empresas têm, em média, 18,3 anos de funcionamento. Um quarto delas exporta produtos, enquanto a metade importa componentes.