Redação do Site Inovação Tecnológica - 17/03/2015
Cálice sagrado dos materiais
Uma pesquisadora brasileira, atualmente professora da Universidade de Utrecht, na Holanda, está por trás daquela que pode ser uma das maiores descobertas recentes no campo da ciência dos materiais.
Cristiane Morais Smith e seus colegas projetaram um material que combina as propriedades eletrônicas excepcionais do grafeno com as exatas capacidades que faltam ao grafeno em temperatura ambiente e que poderiam permitir seu uso em uma nova geração de equipamentos eletrônicos.
"Se conseguirmos sintetizar esse 'cálice sagrado' dos materiais e ele apresentar as propriedades calculadas teoricamente, vai-se abrir um novo campo de pesquisas e aplicações muito além da nossa imaginação," disse Cristiane.
Melhor que grafeno
O grafeno, que já dispensa apresentações, é uma forma de carbono na qual os átomos são conectados em uma estrutura parecida com favos de mel.
Esse novo "cálice sagrado" dos materiais tem a mesma estrutura, mas é formado por nanocristais de mercúrio e telúrio - tecnicamente ele é um telurato de mercúrio.
Os cálculos da equipe mostram que esse material tem as propriedades eletrônicas do grafeno, mas é um semicondutor a temperatura ambiente, o que permite que ele seja usado como um transístor - justamente a grande dificuldade para que a tecnologia atual usufrua dos muitos benefícios do grafeno.
Mais do que isso, o novo material preenche todos os requisitos necessários para a spintrônica, que une processamento e memória no mesmo componente, porque ele apresenta o efeito chamado "Hall de spin" a temperatura ambiente. Esse efeito está sendo usado, em temperaturas ainda muito baixas, tanto em spintrônica, quanto em computação quântica. O grafeno não apresenta o efeito Hall de spin nem mesmo em temperaturas criogênicas.
A expectativa da equipe é que os experimentalistas agora consigam seguir sua receita e sintetizar o novo telurato de mercúrio para que suas propriedades possam ser aferidas na prática.